De novo com o pé...no pântano? Ou de corpo inteiro sem salvação

Lembramo-nos todos do pântano de Guterres, não é? Parece que foi há muito tempo, que o ouvimos declarar que se ia embora – qual significativa declaração de quem sente que chegou ao fim de uma "missão cumprida" – porque o país se encontrava num pântano político (e económico e social). Depois, foi o que sabemos. Uma tentativa quase desesperada e reconhecidamente apressada, mas não atabalhoada (e parcialmente conseguida) de um governo de Durão Barroso para nos atirar a todos a vara a que nos devíamos agarrar para sairmos de tal lamaçal que nos puxava insistentemente para as profundezas até à asfixia total.

Mas com Durão infelizmente a coisa não durou o suficiente, pois outros valores (inquestionavelmente tão ou mais altos o levariam para longe dos nossos destinos imediatos - aliás o próprio António Costa, seu adversário na política reconhecia no tempo certo a importância e a honra do cargo para Portugal).

Tudo isto é, penso, para quem queira ser justo com a sua honestidade mental, indesmentível.

Ou devia ser.

Mas agora, o recém eleito líder do PS, de bem falante e, talvez (?) bem estruturada mas, seguramente desonesta atitude, vem dizer-nos, quase, que urge regressar a esse pântano, perdão, a esse tempo onde tudo parecia, melhor, se dizia ir bem...até começar a cheirar mal (o pântano não devia ser de areias nem de argilas, mas de algo mais pastoso e mal cheiroso, porque microbiologicamente impróprio: a famosa merda, meus amigos! Tal como a todos nos apetecia dizer, a todos, quando, bem à portuguesa, nos era perguntado como estávamos: "na merda", claro! E nem todos o sabíamos. Mas o Sr. Sócrates - só o nome é igual ao do famoso sábio-modesto, "só sei que nada sei" da antiguidade. Este sabe tudo. E já não é o primeiro que nunca tem dúvidas, mas o outro, um Senhor de verdade, que a pouco e pouco nos tem vindo a demonstrar a saudade que nos provocaria, pela sua temporária ausência da política, o Dr. Cavaco Silva, ao menos não usava de (in)disfarçada modéstia ao afirmar a sua segurança sobre o caminho que teríamos, todos, de percorrer.

Afinal...a grande diferença entre quem sabe mesmo e quem só sabe... falar!

Apenas...falar. E falar é pouco. Já nos chegou o Soares, o Almeida Santos (Almeida Tantos) Guterres e, recuando muito mais no tempo, o grande Cícero, que na Roma antiga era o mais famoso e bem-falante tribuno. Só que nesses tempos, a palavra tinha mais peso do que as acções e estas também não tinham o carácter de urgência de que hoje se revestem, pois essa Roma era a grande potência dominadora do mundo!

Hoje, falar bem, é muito pouco. Mas parece que, no nosso querido país, de gente anónima e ignorante, onde tem mais relevo a romaria estúpida e degradante à suposta cena de um crime, perpetrado contra uma infeliz criança, onde ganha mais espaço no nosso diminuto e comezinho quotidiano, um concurso (nome fino: "reality show") sobre outro estilo e tipo de gente estúpida e ignorante, neste país, o pântano pastoso e muito mal cheiroso continua a alastrar e a todos nos há-de arrastar.

E não me parece que um Santana nos vá conseguir salvar, nem do seu próprio governo, que também já tem "outro" odor (...?!), nem do abominável homem dos pântanos que um dia nos poderá fazer regressar a tal massa pastosa, sugadora e asfixiante. Nem já há Marcelo que nos alerte, nem Cavaco que nos desperte, desta sonolência inexorável, desta apatia patológica.

Os nossos carrascos da vizinhança, que muito bem têm sabido usar e quase abusar da nossa subserviência e dos nossos medos colectivos, podem agora começar a preparar as cordas para nos salvar a alguns, desta nova maré pantanosa, ou então... finalmente...comprar as tais terras da raia, que um dia estarão com vista sobre as praias, directamente para o mar...

Que se salve quem agarrar as cordas ou souber nadar!

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