Racionalidade, emoções e decisões




Todos nos confrontamos com decisões. E todos as tomamos certas, umas, erradas, outras. Em geral conseguimos saber do acerto das nossas decisões pelos resultados obtidos. Mas muitas vezes nem assim, nem passado muito tempo, somos capazes de aferir da sensatez, equilíbrio ou adequação das nossas tomadas de decisão.

E já não irei aqui discutir as diferenças, grandes ou ténues entre decisões, tomadas de decisão ou execução das mesmas.

Tomemos um exemplo que pode parecer despropositado, exagerado ou até absurdo (como exemplo para o que de seguida quero dizer). Quando Hitler e os Nazis tomaram a decisão de exterminar uma raça, ou melhor os partidários de uma religião, por sinal das mais antigas do mundo, os Judeus, estariam ou não convencidos de terem tomado uma decisão acertada. Tendo em vista os seus objectivos, sobre os quais hoje muito se conjectura, claro, mas pensemos apenas no controlo de áreas industriais e financeiras que estariam naquela época - não foi assim há tanto tempo...acautelemo-nos de extremismos destes...- nas mãos de judeus, deviam estar mesmo convictos de estarem a proceder bem (não no sentido humanista! Isso não era nem preocupação nem o forte deles, mas estas coisas devem ser inseridas na sua época e na envolvente...). Por outro lado, propagandeando a supremacia da raça, não se pode imaginar que Hitler e os seus seguidores - fica melhor apaniguados – não pretenderiam deixar desaparecer em pouco mais de seis anos, o III Reich, nem muito menos deixarem-se capturar ou sentenciar à morte, ou mesmo suicidarem-se. Então...à vista da decisão tomada, após a morte horrenda de mais cerca de seis milhões de seres humanos, aquela decisão não serviu nunca os seus interesses!

Este exemplo chocante e talvez absurdo, serve-me frequentemente para dizer que muitas vezes é melhor não decidir, do que decidir mal!

Mas, no entanto, assiste-se todos os dias a decisões erradas e por parte de pessoas de valor - todo o ser humano tem valor, mas aqui refiro-me a valor social, reconhecido de alguma forma, ou por sucesso confirmado ou por potencial reconhecido – e de mérito.

Chumbou a matemática quando no ensino secundário e um dia afirmou num jantar sofisticado, a uma senhora que ao seu lado se sentava “sabe eu nunca uso peúgas”...
Einstein não é uma personalidade sobre a qual se questione o valor intelectual nem o mérito da sua obra. Imagine-se a confusão que hoje fazemos com os nossos filhos quando ou chumbam a matemática ou dizem disparates em público!

Jardim Gonçalves é uma personalidade sobre a qual ninguém questiona o mérito de ter construído um Banco, inovador e dinâmico, que contribuiu decisivamente para mudar horizontalmente todo sector financeiro português. No entanto, hoje conhecem-se os resultados de decisões suas ou tomadas com o seu conhecimento e consentimento. Terá sido positivo deixar sair Teixeira Pinto do BCP? Hoje há quem se divida, uns que sim, outros que não. Provavelmente nunca saberemos o verdadeiro acerto da decisão.
Mas sabemos o estado lamentável a que chegou um grupo financeiro com o peso e impacte do BCP. E sabemos das vergonhas, agora também envolvendo o Governo, que ainda por aí correm... (e disparates). Mas falamos de disparates que custam a um grupo como o BCP muitos milhares em vencimentos mensais a cada administrador e milhões em custos ainda não contabilizáveis. De imagem, prestígio, perda de valor nos mercados mobiliários, perda de mercado, clientes, etc. Eu, por mim, se for adiante a tomada de assalto por parte do actual administrador da CGD é certo que termino com todas a minhas actividades com o BCP.
Não aceito que uma empresa seja assim controlada e se torne afecta ao poder político, nem que os seus futuros dirigentes tenham um conhecimento da concorrência que a própria lei da concorrência, portuguesa e europeia tenta acautelar.

Mas todos tomamos decisões. E se acertamos, ficamos bem. Se não...teremos de levar com elas, muitas vezes para o resto das nossas vidas.
Certo é que por vezes temos os dados todos à nossa frente, para as tomarmos bem e acertadamente, mas ainda assim insistimos em seguir um caminho potencialmente inadequado, por questões de conforto imediato, conformismo, falta de coragem, controlo excessivo ou desproporcionado de emoções (versus excesso de racionalismo quando não deve existir – há situações típicas que apenas têm a ver com emoções...), ou falta dele, falta de meios ou de presença de espírito, e de espírito algo visionário...
Como muitas vezes se diz..."vá-se lá saber..."
Mas por vezes sabe-se, a tempo, e sente-se logo. E na política muita gente 'leva com elas'! Mas nas nossas vidas privadas também. Porque não na vida empresarial, sendo as empresas constituídas por pessoas, que pensam, vivem e sentem comos os demais?

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