Momento




Há momentos para que as coisas, certas, nos aconteçam. Por limitação ou mania, esta é uma das minhas ideias mais frequentes. Defendo, ou acredito, mas não me perguntem se o confirmo ou não a cada instante, que para que se tenham as atitudes e tomem as decisões adequada há sempre um momento, passado o qual, já as condições ou factores mais favoráveis, podem ir passando ou já ter passado. Considero a minha própria experiência pessoal, sentimental, talvez na maioria das situações, mas profissional em muitas outras. Por vezes, muitas até, não me refiro às minhas próprias decisões. Mas às de outros. O que hoje nos parece, a mim ou a outros, demasiado cedo, amanhã pode vir a mostrar-se tarde de mais. É uma decisão sobre uma relação sentimental ou íntima. É sobre uma amizade, o nosso empenhamento nela, ou o estarmos disponíveis para um amigo, ou irmos ter com alguém no momento certo. É aquela decisão sobre um assunto profissional. E isto afecta todos, seja em que plano for. E afecta os decisores empresariais, tal como os da administração do Estado. Não há certezas antes. Nem somos detentores inexpugnáveis ou intemporais da verdade. Ninguém o é. E eu considero-me, pessoalmente, menos absoluto do que muitos outros que me rodeiam. Por vezes, no entanto, sou levado a pensar que devo lutar quanto posso pela decisão de outros, no momento adequado. E engano-me, ou podem outros enganar-se e estar eu correcto. Mas se não há certezas antes, há confirmações depois. E essas, vêm da pior maneira, com toda a violência que nos traz o desencanto e a tristeza. Por vezes são necessários anos, para se confirmar que o tal momento passou e há muito. E o desalento ainda é maior. Assim se transforma uma possível felicidade num oceano de frustração. Irreversível. O conformismo ou adiamento também traz, ou ainda mais, muita infelicidade ou irrealização. Deixar correr o tempo, como tantas vezes se pensa e diz. De uma forma ou de outra se comprova que o destino, ou o nosso caminho e fim pré-programados, enquanto tal, não existem. Eu já terei tomado muitas decisões erradas das quais nem mesmo hoje me apercebo. Se essas implicarem pessoas e sentimentos, dos quais nos afastamos definitivamente, por má escolha nossa ou por falta de espírito de luta, vulgo coragem, então alguém sente o desconsolo e passa pelo desgosto. E nós nem nos daremos disso conta. As relações humanas, sentimentais ou profissionais, surgiram antes da descoberta do fogo e podem incinerar mais rápido uma felicidade, do que a energia fulminante libertada pela matéria na forma de calor em reacção rápida. Ninguém sabe e eu acreditem, muito menos. Mas sei, ou por enquanto, convenço-me que sei, que há sempre o tal momento. O momento certo é a chama boa. Deixá-lo passar é apagar o fogo que não consome, mas pode libertar e nos transformar a vida numa coisa que vale bem mais a pena.
Olhar a paisagem com a serenidade na medida adequada, mas a consciência bem ponderada, do que há a fazer. Olha um oceano fantástico, de toda a vida que ainda nos falta e saber o passo certo que devemos dar a seguir. O momento mágico é um Blue Moment, inspiração de uma bela paisagem que nos enche a vista. Uma inspiração de que temos de ficar gratos, a nós, a outros ou a essa paisagem que ali nos deixaram para nos tocar bem fundo.
Talvez o momento, a cada instante, esteja a passar. Talvez nem se tenha ainda aproximado. Ou já o perdemos irreversivelmente. Porque momento é tempo.Mas muitas e muitas vezes, penso ou pensamos ter esse momento chegado, e também aí, nos equivocamos. Esperar pelo destino não um remédio em si mesmo. Deixar o tempo fluir, pode também não o ser.

Saber identificar momentos é a grande sabedoria, que a vida teima em nos ensinar.

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