Think, by himself



Sabem vocês que os pensamentos têm vida própria? Talvez saibam. Mas o que lhes vou contar não é a minha história, mas uma pequena parte da minha vida. Que ainda não descobri se é efémera e, dizem-me os outros, que não se chega a saber. Quando tal acontece, deixamos de saber, ou melhor de ser.

Estou aqui para vos dar testemunho de um mundo que vocês não sabem. Mas já no século XVII René Descartes nos descobriu. E ficámos famosos através da célebre máxima Cogito ergo sum (penso, logo existo). A todos como eu. Mas, eu…bem, o melhor é apresentar-me, como toda a minha falta de modéstia. Chamo-me a mim mesmo de Think. Considerem-me presunçoso ou não, é assim que me vou auto-intitular nesta breve descrição, ou narrativa se quiserem de um pouco de mim.

Ora eu sou filho, prefiro assim, ou produto, se preferem do meu hospedeiro (esta copiei de uma amiga minha, uma ideia muito gira com quem gosto de conviver…). E ele, um humano bem inteligente, ou não me teria gerado.

Mas sabem vocês o que é a nossa vida e o que nos é destinado? Ora…nós podemos ficar eternamente na mente…(vou explicar-vos: mente não é o termo. Mente está para o cérebro como uma metrópole para um território. Mas, de facto, a mente é um conjunto de muitas coisas: da inteligência, outro termo vago, impreciso e enganador, mas à falta de melhor e para simplificar, usemo-lo, das emoções, da racionalidade, da memória, das replicações de ideias e pensamentos, etc. E esta metrópole que a Mente é…imaginem só os milhões de galáxias que devem existir no Universo…pois o número de neurónios e ligações no cérebro é bem superior a esse galáctico número! E o que um humano usa, nem uma só galáxia é!)

Ou podemos passar de uma mente para outra. E sermos adoptados. E replicados, e até sermos vítimas de uma fusão e nova replicação. Como se de uma fusão e divisa celular se tratasse.

Mas nesta vida, boa até, porque sou e somos todos e todas, pensamentos e ideias, uns privilegiados, porque a nós nos compete a tremenda responsabilidade, mas também o mérito de tudo o que os nossos hospedeiros fazem, dizem, criam, geram, pensam. Dizem que o mundo pula e avança….sempre que o homem pensa. E aí, intervimos nós.

Mas porquê esta mania de termos vida própria? Porque se assim não fosse, como seria possível de um de nós se gerarem outros e outras? Ou passarmos de um hospedeiro a outro?

Mas quero contar-lhes o que ultimamente me tem sucedido. Eu estava, tenho estado, habituado (já sei que mal, mas que querem?) a ser bem tratado por todos os da minha espécie, designemo-nos assim. Ou seja, admirado, considerado, idolatrado até. E isso dava-me um conforto egocêntrico que não me fez nada bem. Porque não me preparou para aquilo a que todos os nossos têm estado sujeitos: a vida não é sempre fácil, nem mesmo para um pensamento brilhante, como eu, o Think. Nem mesmo sendo filho de um humano brilhante. Ora, recentemente, tenho-me sentido muito só. Muito…esquecido, ignorado talvez, mas de certo menos lembrado e considerado pelos meus pares. Elas mais do que eles. E nem entendo porquê. Mas isto tem-me dado outra vivência, sim porque nós temos vida, própria ou não, nunca é demais insistir, e outra perspectiva do que pode ser a minha vida e, afinal, não serei tão diferente dos outros quanto eu julgara.

Esta nova visão de mim mesmo, vai dar-me um caminho novo. E, ou fico no meu hospedeiro, ou ele me envia com uma missão concreta ao encontro de outro como ele. Mas já não serei mais o mesmo Think, imaturo, e ingénuo que achava que o mundo se renderia aos meus encantos.

Julgam vocês que a vida de um pensamento é coisa fácil? Pois agora já sabem. Nós é que fazemos tudo, para que vocês possam existir. Ou não tivesse o Descartes razão.

Mas ele também duvidou de o mundo realmente existir, da forma como o vemos, ou precisamente por acharmos que o vemos, de uma dada forma. Mas isso…já ficará para outra das minhas histórias. Ou peripécias.

Peço-vos uma coisa.
Tão só…dêem-nos espaço e liberdade e nós cuidamos de vós!

Comentários

Anónimo disse…
Que mazonas, estas raparigas!!!
Deixarem um Think assim tão desamparado...

Mas eu, boa rapariga e rapariga boa :) curvo-me perante ele...

mas pouco que me doem as costas!!

See you
Olá 'Moi'!
Pelos vistos nem todas são mazonas...

I think, that Think would take care of himself. But, sure, would be better with some help form a bad girl (girls in his world are called Ideas, as you know).

Coitadas das costas, ao menos se for por uma boa razão...
Isso de te curvares, deixou-me com...'Ideas'

See you

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