Não é um Domingo qualquer...


Domingo. Um dia inútil. Serve aos religiosos, aos....fúteis. Claro que serve para descanso. Claro. E merecido. Mas é um descanso...que se pode tornar...um problema, um sofrimento, do qual anos mais tarde, ou nem isso, nos damos conta.

Nada tenho contra o descanso semanal. Cultivo-o, procuro-o, utilizo-o. aproveito-o. Mas um dia sem nada fazer...até pode fazer sentido, se ao lado de alguém que nos dá aquela paz que compensa tudo o mais. De resto, não é apenas mau, é prejudicial. Por isso, Domingo, um dia para ir ao sol, mexer as pernas, activar os neurónios, olha em volta e repensar onde estamos, em que ponto da nossa vida e da dos outros nos situamos. E em que vida podemos, ou podíamos estar.

Não. Mesmo assim é pouco. Devia ser um dia, de verdade, para ser mais vivido do que os outros da semana. Trabalhar é preciso, necessário, fundamental. Mas viver, é essencial. Viver hoje, já, o que nem sabemos se amanhã teremos. E...há Domingos e Sábados que não nos permitem.

Ir de manhã ao café, à pastelaria ou o que seja. Um café e um folhado misto, por favor. Pode levar-me ali àquela mesa? Obrigado.
Sentamo-nos lá fora, a aproveitar um dos primeiros fins de semana da Primavera, um belo dia de sol. Esplanada quase vazia.

Os portugueses não apreciam o sol, a luz, a vida! Preferem o interior, a sombra, a tristeza, a auto-comiseração, a bisbilhotice, a leitura de 'A Bola', ou do 'Record' (de O Jogo, que é preciso haver um jornal com uma tendência para cada um dos três- porquê só três??- dos 'grandes clubes' de futebol. O resto nem é desporto. O que não é resto, é ignorância e estupidez, depressão atavio intelectual, mas ...não sabem. Como um alcoólico, um drogado, um doente mental que não tem consciência do seu problema...). Do outro lado da rua um homem com ar perdido olha mais de três vezes para a porta de uma farmácia fechada, como a duvidar do que os seus olhos vêem. E olha à sua volta umas trinta vezes, com um sorrisinho de idiota chapado...aquele homem não pode ser 'daqui'...deste mundo, pelo menos.

Na mesa à frente fala-se do grande acontecimento nacional, que nos dará mais e melhor vida, a bem provável vitória do Benfica na Liga. E escrevo. Sobre coisas minhas, sem sentido para mais ninguém, ou talvez alguém. Não sei. Não interessa, não está ali comigo. Um sol e uma manhã de paz. Mas perdida. Escrevo uma frase, levanto a cabeça a confirmar se o mundo, nesse lapso, já mudou. Mudou para o que eu quero. Se parou, se suspendeu a si mesmo e ...

Mas nada. O Domingo igual, o dia de sempre. Uns estarão na missa, nesse culto...de incultos. Nessa rotina a que gostam de chamar tradição e bons costumes portugueses, de gente de bem e outras 'pataquadas' que tal. Ah! E se não somos por essas coisas, de tradições, então...seremos uma espécie de esquerdistas (acreditem que me esforço por ainda tentar perceber na cara de cada pessoa que vejo na rua ou a falar comigo, se é 'de direita' ou ' de esquerda' para as poder meter nesses 'clubes' nem sequer criados em 1789, na Revolução dos amaneirados franceses. Não consegui até hoje, mas vou continuar a insistir, prometo.) Ah! Os portugueses adoram sentir-se parte de um clube: o do partido tal, da ala política tal, do clube de futebol 'x', da religião coisa e tal, das tradições ou contra elas...lindo! É tão lindo ser português e viver Domingos assim, vazios, sem quem queremos, mas com a TV, e tão fúteis.

Fiquem-se vocês, vou dar corda aos sapatos e irritar-me comigo mesmo. E...aguardar, eu sei porquê...

Por fora a serenidade, por dentro um rebuliço! Viva o Domingo.

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