Portugal: num rumo de colapso lento?


Pizarro e Atahualpa. Cortéz e Montezuma. Afonso de Albuquerque e... armas de aço, armas de fogo, Doenças, Navios. Literacia.


Condições e conhecimentos que levaram Espanhóis ao domínio de civilizações Incas, Astecas e Maias. O domínio de um país, de um povo ou de uma civilização sobre outro foi feito de várias formas ou pelo conjunto delas.


Quando Pizarro derrotou os Incas, capturando Atahualpa, com a desproporção das suas forças militares, usou em sem benefício de um conjunto de vantagens: o seu conhecimento, não perfeito nem total, mas melhor do que o do Imperador Inca, do seu opositor. Já tinha conhecimento da experiência de conquista, tempos antes, de Cortéz em ralação a Montezuma. Sabia da existência de um povo com características como as dos Incas e estes, por sua vez, ignoravam que existiam espanhóis e como eram. Aliás, Montezuma, e parece que também Atahualpa, viram os Espanhóis como os seus Deuses, regressados do passado e atónitos, paralisados quase, foram surpreendidos pelos ataques destes. Pizarro também usou de outras vantagens. Primeiro a literacia, que lhe permitia, não a ele que era analfabeto, mas aos religiosos que o acompanhavam, escrever para Espanha e receber informações e instruções, por muito que isso tardasse, aos padrões de hoje. Usou de navios e tecnologia naval, desconhecida dos Incas, que lhe permitiu chegar por mar ao que hoje é o Perú e levar consigo não muitos, mas eficazes e superiores homens armados. Armas de aço, como espadas e punhais, contra cacetetes de pau ou pedra. Armaduras de aço, ou de malha de aço, contra protecções quase inexistentes, ou em pele. Capacetes de aço. Armas de fogo, não muitas ou eficazes, mas de longe mais destruidoras e com efeito de surpresa, do que as rudimentares armas dos indígenas americanos. Pizarro levava cavalos, também desconhecidos dos Incas, tal como dos Astecas, quando Cortéz os atacou. Os cavalos permitiram aos Espanhóis um ataque rápido, súbito e enérgico, que arrasou com um número bem superior (mais de 60 vezes superior) de Incas. Pizarro sabia dos Incas e estes nada sabiam dele. Atahualpa não tinha conhecimento nem de alguma invasão por mar de outro povo, nem do que sucedera no actual México, com os Astecas. Mas Pizarro usou esse mesmo conhecimento e experiência, de outro espanhol, noutro local, a seu favor. Tal como Cortéz arrasou Astecas contaminados com doenças que antes não existiam por aquelas terras e povos, como a varíola, Pizarro também beneficiou dos milhares de mortos por doenças por ele levadas.


Sem nos perguntarmos porque não sucedeu ao contrário, e não foram as civilizações americanas a dominar a tecnologia de construção naval e chegar à Europa, com armas mais avançadas e mortíferas, ou conhecimentos e literacia superior, é bem patente como o domínio de tecnologias desiquilibra decisivamente o controlo de uma situação, de um povo ou civilização, a favor de outro.


Antes dos Espanhóis (mais de setenta anos antes) os portugueses dominaram a tecnologia de construção naval e a ciência da navegação. Chegaram ao Oriente bem antes dos Espanhóis à América. Permaneceram com o domínio de possessões a Oriente bem mais tempo do o tempo de existência dos Estados Unidos da América. Mas após esses primeiros tempos, os portugueses passaram a viver de glórias passadas e de história apenas, e perderam o controlo dos mares e das suas possessões e, bem mais importante em termos futuros, do comércio com os povos conquistados, para Ingleses, Espanhóis, Holandeses e Franceses.


Séculos mais tarde já a ciência da navegação e a tecnologia de construção naval havia mudado, havia sido desenvolvida por outros países e novas tecnologias, já mais importantes para os países e para o Mundo se foram impondo.


Pelo século XVIII já nós portugueses havíamos deixado de possuir algum conhecimento ou tecnologia que se mostrasse importante para a nossa supremacia e de grande impacte para outros povos e países.


Quando um país domina uma tecnologia que se revela importante para os demais, ganha relevo e cresce económica e socialmente. Ganha hegemonia, se for o caso de se tratar de alguma tecnologia ou produto de âmbito universal.


Este não é o caso de Portugal há vários séculos. Também não o é da Espanha, mas nesse país, ao contrário do nosso há um imenso mercado interno e, paralelamente, uma aposta em áreas económicas deixadas para trás por outros, tais como a pesca ou a agricultura, que a Espanha soube fazer crescer e modernizar, dominando mercados mais importantes para outros do que para si mesma. A preço muito baixos, tanto quanto lhe permita a sua dimensão. Mas também a sua mentalidade.


Portugal não tem nenhuma destas condições, nem conseguiu até hoje criar alternativas. Tem seguido um caminho errado, assente num mercado pobre de preços baixos, quando a sua dimensão interna deveria levar a sermos um país de preços elevados, à imagem de uma Suíça por exemplo. Mas o desprezo pelas condições das pessoas e das famílias e uma aposta, também ela tímida e amputada pelo domínio e omnipresença do Estado, nas empresas, estrangula qualquer inversão deste caminho.


Um exemplo: a Portugal têm chegado, pouco a pouco, nos últimos anos, produtores de leite holandeses, com poder de compra suficiente para adquirirem grandes propriedades no sul do país e com um espírito empresarial e de trabalho bem distinto do nosso, quando não emigrados. Mas na Holanda não se praticam nem impostos tão elevados aos particulares e famílias, nem preços baixos nos seus mercados. E também os bancos holandeses não têm as práticas de juros elevadíssimos da nossa banca (também ela controlada quase na totalidade pelo Estado socialista actual: Caixa Geral de Depósitos, que por sua vez controla o BCP, BES que se subjuga ao Governo e Estado pela importância dos negócios que lhe são endereçados, etc.). Na Holanda os terrenos são bem mais caros e escassos do que em Portugal. A poupança das famílias é bem superior. E a mentalidade dos holandeses é mais de trabalho do que de aquisição de sinais exteriores de riqueza e... de enriquecimento acelerado.


O nosso desconhecimento de uma tecnologia impactante (e o não surgimento de uma tecnologia portuguesa de importância e impacte universal, nada que se compare com os sucessos, reais, é certo, de empresas de novas tecnologias, mas que mais não são do que centros de cópia e desenvolvimento de tecnologias de ‘outros’), associado ao estrangulamento social e pessoal actual provocado por este imenso ‘polvo’ que é o nosso Estado, ou a sua Administração, se não invertidos, podem bem levar a um colapso social, económico ou total, com a bancarrota nacional aí à porta...

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