A (nossa) Volta ao dia em 80 Mundos

Júlio Cortázar, um génio da literatura, escreveu livros tão marcantes para o Século XX como "Rayuela" ("O Jogo do Mundo", na tradução portuguesa) e o agora publicado em Portugal "A Volta ao dia em 80 Mundos".




Este último é uma obra super criativa, tal como o tinha sido Rayuela, em que Cortázar ensaia vários estilos literários, e várias experiências culturais. Uma volta, num dia, a tantos mundos geográficos como a estilos de literatura, no fundo uma volta com a nossa cabeça por tantos e tão numerosas experiências. 

Assim, também, muitas vezes experimentamos nós tantos mundos, tantas vidas, tantos estilos e nem saímos do sítio onde estamos. Experimentamos dias bons e dias maus, num dia apenas. Experimentamos os nossos e os mundos de mais alguém, principalmente de alguém muito especial ou muito querido. Experimentamos sentimentos, contraditórios ou não, e uns bons, outros menos. 

Somos vítimas, mas sempre na nossa maravilhosa e malandreca cabeça! E num só dia, ou em parte dele até, somos levados a viajar por sítios e paisagens boas e más, reais e imaginárias, umas que queremos, ou que preferíamos não saber nem conhecer. Andamos nas nossas terras e nas de outrem. Se forem de uma pessoa muito querida, que passa por momentos maus ou menos bons, o sofrimento também nos pode atingir. Somos escravos involuntários, da nossa própria cabeça. 

E julgamos nós que controlamos tudo.

E normalmente sim. Mas basta um dia, como se de uma doença contagiosa se tratasse, sermos atingidos, como se por um raio, com o problema de uma pessoa, ou com a felicidade dela, ou com as nossas próprias experiências e vivências inesperadas...e lá estamos nós a, diz-se, de forma algo provocatória, 'perder a cabeça'.

A cabeça, que controla todas as nossas outras actividades e funções, faz sofrer o desgraçado do coração ('coisas do coração', dizem também... ahah) e o infeliz estômago e o parente no cativeiro, esse malfadado intestino que nos permite alimentar-nos, mas também coisitas menos agradáveis (telúricas e reptilianas, dizia um professor meu numa sessão de Inteligência Emocional, mais um 'ahaha', pois...). Ressentimo-nos todos pois...e chegamos à noite, como se uma carga de porrada nos tivesse sido presenteada e  'amolecemos' (para não ser assim muito...grosseiro, terceiro 'ahahah') a cabeça a outra a pessoa. 

Pior mesmo, é se a pessoa agora vítima dessa nossa, quase, ou totalmente, indesejada viagem, é a que nos contagiou, ou a que nos, sem ela querer, trouxe a preocupação. Preocupação por simpatia, pois. Existe! É só termos sentimentos fortes...e logo se vê!

Pior ainda...se a pessoa que nos fez a cabeça andar assim...à roda, é precisamente aquela que não queríamos aborrecer. A última e a única.

Então aí, meus amigos, o melhor mesmo é acelerar o fim do dia, meter a cabeça num TGV mental e...

Acordar no dia seguinte, nem espantados nem coisa nenhuma, ao constatarmos que a cabeça, essa quase sempre bem governada bola em cima dos ombros, essa incansável fonte de impulsos eléctricos e de tanta asneira, quanta sensatez...está onde sempre esteve!

Em cima dos ombros, descansadinha e a rir-se...olhem lá a 'pestinha' ao espelho a rir-se de nós (vós)

Último 'ahahah' e um dia de cabeça sorridente a todos!
Dêem lá as vossas 'voltas, mas não estraguem o dia a ninguém!

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