O checo - Prólogo

Um sol fresco e agradável, envolvente, bateu-lhes na cara com alguma violência, obrigando-os a semicerrar os olhos instantaneamente.

Como sempre saíram à rua os dois, Jana para o seu trabalho na Universidade, ele em direcção ao Conservatório da cidade, onde era o mais jovem professor de violoncelo. De longe, não muito longe, chegava-lhes um som estranho, irreconhecível, de como quem estivesse a triturar pedra. Com o som, aperceberam-se de uma forte vibração, que a sentiam no pavimento de paralelepípedos, típicos do centro da sua cidade. Ao dobrar da esquina, à entrada da praça, os olhos de ambos não podiam acreditar no que viam. Uns cinco ou seis tanques percorriam a praça, dando tiros na direcção de um pequeno grupo de jovens barbudos, jovens de mais, para morrerem sob o canhão desses tanques. Miroslav instintivamente abraçou Jana, e continuaram a dirigir-se para a praça, sem perceberem porque o faziam. Talvez para tentarem saber e entender o que se estava a passar....

Por eles passou a correr um jovem adolescente, de uns catorze anos, que lhes disse num falar sem fôlego “ são os tanques dos sovietes que nos invadiram, saiam daqui! Fujam! Praga foi invadida! Como é possível?”.

Mas eles continuaram encostados às paredes dos prédios pela pouca sombra que por ali havia. “Vamos tentar chegar à Universidade ! disse-lhe ela, puxando-o pelo braço. Sem terem entendido como, nem vislumbrado nada ...a tempo, Jana cai ao chão e o seu marido, estupefacto, pensou que ela havia tropeçado, pensamento que logo abandonou, em pânico, ao ver o sangue que lhe saía pelo peito...
No segundo seguinte um grupo de jovens puxava-o a toda a força, e mesmo aos seus gritos que tentavam negar que o fizessem, não lhes pode resistir. Ao olhar para trás, já não conseguia visualizar a sua bela e tão amada...mulher. Quando se conseguiu libertar dos jovens que o puxavam e o avisam, aos berros, por entre os tiros que não cessavam, correu por todo o lado, pelas ruas em volta, mas...nem sinal de Jana!

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