Tempo, esse desconhecido


Uma confissão: sempre tive problemas com o tempo. Sempre sofri de alguma impaciência, de alguma inquietação, em relação a certos aspectos, objectivos ou acontecimentos desejados. Por outro lado, sou, sempre o fui também, extremamente paciente, com tudo o que considere o mais fundamental para mim. 

Esta dualidade, por vezes, confunde-me. Confesso mesmo que é o aspecto que mais incontrolável sinto ter na minha cabeça. Na realidade, nem mesmo em situações que me puxaram para momentos mais depressivos, senti, por poucos momentos que fosse, não conseguir controlar os acontecimentos. Não se controla tudo o que queremos, na vida. Nem se quer, muitas vezes. Mas a cabeça, sempre a controlei, e controlo. Mas o tempo...

...o tempo para acontecerem coisas quando as desejo, quando delas necessito, quando me sinto mais preparado para elas. O tempo que ainda não chegou, o momento certo, que sei que pode chegar, que quero que chegue e que sei irá vir...esse é mais difícil para gerir em termos mentais. 

Por outro lado, a sensação de tempo 'perdido', que a mim mesmo digo nunca ter existido e é uma tremenda mentira e, até, maldade, que faço a mim próprio. Há sempre tempo perdido, e há momentos (tempo também, pois) que tenho a sensação de ter sido já muito, demasiado. A sensação, essa ainda mais dura de aceitar, difícil de uma gestão emocional-racional, 'inteligente', de poder, talvez, ter podido aproveitar um tempo passado, de outra forma, noutras circunstâncias, com outra vida profissional, social, sentimental, com outro alguém. 

Só se aceita um tempo passado que, à luz de hoje, se considera já, sem sombra de alguma dúvida, menos bem, ou mal vivido, quando há a forte sensação e esperança de se ir ainda viver um novo tempo bem melhor e que se espera, compensador. Mas nunca se sabe, verdadeiramente, cientificamente. Sabe-se, eu por mim sei, que sempre luto, sem nunca desistir, por mim, por tempos melhores. 

Sobre o tempo, vivo assim entre uma impaciência pueril e imatura, e uma paciência que julgo por vezes, para além dos limites do razoável. Mas nunca espero mais do que um dado limite que a mim mesmo me imponho, e só dentro de mim o sei. Se bem que os meus limites, de espera, de paciência, são invariavelmente bem extensos, longos e também dolorosos, porque a minha luta por aspectos essenciais, numa termina. 

Esta gestão difícil entre o querer o que mais quero a acontecer já 'ontem' (e o que mais quero tantas e tantas vezes não está no meu controlo) e a ter alguma sabedoria para identificar a necessidade de usar uma espera quase sem limite de tempo, é exactamente o aspecto de gestão mental mais complexo e quase doloroso que vivo tantas vezes.

Pergunto-me por outro lado, porque vejo tantas pessoas a viver um tempo passado. Afinal...o tempo que passou já não é vivido. Só se vive o presente, como todos sabemos, e ele passa a cada momento. E é este pequenino significado de cada momento, como a água que passa num rio onde pomos o nosso dedo, e que não mais voltará, o maior trauma que o tempo nos trás. E é esse o imenso significado afinal, que de pequeno, precisamente, nada tem, que nos devia a todos, saber viver o Momento Actual. 

Mas não sabemos, poucos de nós sabemos, ou poucos conseguimos. Somos em grande parte um produto frustrado do tempo que vai passando... e o sorriso que mantemos tem afinal a ver com esse tal passado, que deixou de existir ou, bem melhor, com a confiança num futuro que queremos melhor, mas que exige a nossa luta, hoje, já!

Na verdade, menti-vos...sempre soube gerir o tempo. Tenho é pressa de o fazer acontecer quando sei, ou julgo saber, que ele é o Tempo que mais quero que chegue. 

Pode tratar-se de uma nova vida, profissional, social, o que seja. Pode ser um tempo de mais tranquilidade, que me traga mais sabedoria ou reflexão. Pode ser um, que me traga alguém que ainda hoje não conheço, ou não sei se conheço. Pode ser um conjunto complexo de todas as coisas...o tempo que virá só pode ser o melhor, sempre o melhor, porque, estava a tentar confundir-vos... houve que, lá está!, em tempos, aprender uma coisa essencial: verdadeiramente essencial. Mesmo que o tempo futuro não nos traga, não me traga aquilo que hoje mais desejo, o tempo passado, na prática a minha própria história, soube dar-me este sorriso de alguma sabedoria, que diz...já sabes bem o necessário e suficiente para deixar a lutar pelo melhor, ainda que tal exija de ti mais sabedoria ainda para...saber esperar, um pouco mais...

Interessante como o Tempo brinca connosco. Mas só quando não sabemos fazer uso dele. 

Viver é hoje! 

E o amanhã é também hoje que se prepara e começa a construir. Esta é uma sabedoria popular, milenar, que parece com frequência passar ao lado de tanta gente...

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