Escher e os 'estranhos laços' do nosso 'Eu'





Escher, um artista gráfico genial, fez desenhos totalmente originais, um tanto à volta dos ‘loops’, dos laços e enlaces…das voltas em movimento infinito.

Ouvindo hoje, por lembrança perfeitamente casual, ao procurar outras músicas no ‘YouTube’, lembrei-me de um desses laços sem fim, um desses padrões que se repetem indefinidamente, geração após geração: Father an Son (de Cat Stevens).

Mas Hofstadter, num livro genial, também (‘GEB, Gödel, Escher, Bach and Eternal Golden Braid) teorizou, com base nas pesquisas e descobertas de Gödel, matemático austríaco sobre estes eternos e naturais ‘laços’, que existem por toda a Natureza, tal como existem dentro de nós, na nossa mente. Pensamentos, ideias, atitudes que se repetem, se renovam, se ‘refrescam’ vindo dar a um mesmo ponto, ou evoluindo, como na magistral música de Bach e nos seus Canon (uma das expressões máximas sendo a Musikalisches Opfer BWV 1079, uma obra que é uma colecção de Canon e Fugas, elaborada com base numa simples composição de Frederico II da Prússia, o patrão de Johann Bach). Bach mostra toda a sua capacidade criativa com essa obra, feita de pequenas variações, em constante ‘crescendo’ e com base, como disse num simples tema, que não se imaginaria pudesse dar em tão criativa Obra.

Na nossa mente passam-se de forma controlada estes ‘laços’, que nos permitem por uma pequena derivação, variação, dando-nos conta ou não, conduzir a algo novo...por vezes.

É um novo pensamento, uma nova ideia, com base em acumulados conhecimentos e ‘rotinas’ mentais, que pode surgir, normalmente com consciência, mas esta também carece de esclarecimento, tal como Dennet a explanou...

Damo-nos conta com frequência, mais de um mundo que nos envolve e relegamos para plano ‘inferior’, sub-consciente, a noção da nossa própria mente, do nosso mundo interior. E esse conhecimento ser-nos-ia essencial para melhor entendermos o outro, fora de nós, que tantas e tantas vezes, se passa mais dentro do que fora...sem que o saibamos.

Confunde-se, assim, realidade e invenção da mesma? Por certo...e lá estão os ‘loops’ para nos puxar ao normal de nós mesmos. E para nos distanciarmos desse normal. Numa constante recriação consciente -inconsciente de um mundo ele mesmo sujeito a ‘laços’ de ritmos...cada vez mais complexos, como numa continua evolução de um Canon de Bach...


Estamos dentro de nós e fora no nosso mundo? Ou ao invés? Escher parece ter encontrado a pseudo-confusão que nos ‘governa’ e de forma original, superior, desenhou-a...deliciem-se com estas gravuras e pensem neste constante enlace, neste quase labirinto que nós somos...Imagine-se agora a criação de empatias e enlaces com outros comuns mortais como nós, ou com alguns bem mais complexos, seja por serem superiormente inteligentes, seja por serem menos ‘estruturados’ como uma composição musical menos sofisticada, menos evoluída, menos acabada...ou ao contrario!

Já havia escrito alguma coisa sobre o tema, e desta, voltei a dar mais um loop! E cá me trouxe a mim mesmo!

Douglas Hofstadter escreveu  um novo livro, em que desenvolve a ideia, sobre o ‘Eu’ e os ‘laços estranhos que nós somos’, sobre a nossa personalidade e sobre a consciência do que somos.

Comentários

Anónimo disse…
Estranhos laços... eu diria neste momento estranhas formas de reencontrar um amigo dos meus 12 anos... Não sei como te encontrei neste universo imenso que é a era digital, mas fiquei super contente de voltar a ver-te tantos e tantos anos depois. Passou quase uma vida mas reconheci-te logo.
A vida passou num ritmo alucinante e podes crer que me emocionei ao voltar a encontrar-te. Um abraço não com a ingenuidade dos 12 anos, mas de pura amizade e carinho por uma pessoa que conheci e não esqueci. Até um dia destes:)
Olá Élia. Recordo-me um pouco de uma Élia, mas sou sincero...já lá vão uns aninhos...Mas claro que me lembro do nome e tenho uma imagem, ainda que remota. Muito obrigado pelo teu comentário.

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