Cavaco Silva

Cavaco Silva ganhou as Eleições Presidenciais de 2011. Como era esperado. A dúvida, de alguns, mas julgo que não das estruturas dirigentes do PS, era se algum dos outros candidatos poderia obrigar a uma segunda volta. Tal não aconteceu.

Cavaco foi eleito com menos votos do que na primeira eleição. Menos do que outros Presidentes. Normal. A esquerda é sempre mais militante, mais activa politicamente, e quem mais deposita as esperanças e a subsistência na vida pública, e no Estado e suas estruturas e orgânica.

Para a abstenção ainda terá contribuído, e muito, o descontentamento de habituais eleitores de Cavaco, por não ter, durante o seu primeiro mandato, posto em causa este mísero Primeiro ministro corrupto e mentiroso que nos degrada a vida, todos os dias. Ainda por cima (Sócrates) não acerta, nem no que diz na noite das eleições. Na qual nem devia ter falado, após a vergonhosa campanha que mandou instalar contra Cavaco, e com os recados que instruiu Alegre de os ir enviando. Alegre foi candidato do PS, um pouco do BE, mas bem mais de um PS cheio de problemas com a situação em que tem vindo a deixar Portugal, com telhados de vidro pelos escândalos, abafados todos, até ao momento, que se foram deslindando, e dos quais Sócrates nunca de libertará, nem mesmo depois de morto ou desaparecido da vida pública. Alegre foi um candidato medíocre, também pouco desejado por muitos socialistas. Um candidato muito fraco, pouco lúcido e muitíssimo pouco inteligente.

A Cavaco só bastaria manter a postura pela qual é conhecido. Evitar comentar os adversários, e foi o que fez. O seu discurso de vitória não me agradou e até me desiludiu um tanto. Um 'homem do povo'. Porque ser do povo é 'melhor' do que ser de outra origem? Porque isso lhe dá capacidades especiais? Nada disso. Ser de origem humilde, não sei se do povo ou não, é uma circunstância. Apenas. Pode ser determinante na assunção de uma atitude mais modesta, menos exuberante, ou mais tendente a ser cauteloso, perante adversidades. Essa 'qualidade' de que se proclama Cavaco, elogiada por alguns dos seus comentadores mais fiéis, pode até ser importante numa época de dificuldades, como esta em que Portugal se encontra, e que é da quase total responsabilidade de Sócrates. Mas de pouco, ou nada lhe serve, quando é fundamental ser-se um tanto mais do que provinciano e conservador. Quando é necessário ser-se e saber-se ser, lutador por uma modernidade e excelência e por uma combatividade económica. Dessa capacidade, não me parece que Cavaco se possa gabar. Nem, muito menos, um homem totalmente impreparado, sem formação alguma (!) que se ocupa de nos destruir a vida e a Democracia e que já lhe falta muito pouco tempo para tal lhe ser cobrado, o sinistramente diáfano Sócrates.

Quando Churchil assumiu as funções de Primeiro ministro no Reino Unido, em plena Segunda Guerra Mundial, era o homem certo no momento certo. Mas perdeu as eleições logo no final da Guerra, porque já não era o líder de que os britânicos precisavam para a reconstrução e para novos desafios. Esse foi um dos momentos de grande sabedoria de um povo. Nesse caso, o inglês. Para mim, aconteceu agora o mesmo com Cavaco. Mas com uma diferença de muitos votos em relação a outras eleições presidenciais. Porque no primeiro mandato ela já devia, por imperativo nacional, com bem mais razão do que Sampaio, quando facciosamente percebeu este que era o momento de passar o poder ao seu Partido, demitido Sócrates, através do instrumento que possui de dissolução da Assembleia da República. Um verdadeiro e patriótico imperativo, que Cavaco não soube ver, ou não teve a coragem suficiente. E um Presidente, ou um Primeiro ministro, são eleitos com um mandato. Mandato significa, mandatados para um desempenho que os eleitores lhe outorgam. E não para pensar em lugar dos eleitores. Sócrates destrói a nossa economia, a nossa Democracia, a nossa cultura, todos os dias. São mais de 17 mil organismos do Estado a produzir despesas e sem fiscalização. Milhares de quilómetros de estradas que estão desertas, mais um aeroporto, estádios de futebol, pontes, etc. Empresas públicas abusivas e incompetentes para as tarefas que lhes incubia. Uma educação em desordem ou caos aumentado. Um desemprego crescente, que este ano irá disparar. Um Estado individado até à enésima geração, sem que a inversão desse caminho se possa ver tão cedo. O aumento de impostos tornar-se-á a pior decisão de sempre, porque irá conduzir ao que menos se deseja e interessa: uma baixa colecta. Um défice acrescido, uma depressão económica e uma recessão, o crescimento da Dívida Externa, que já vai em mais de 120% do PIB (PIB este consumido em 50% por menos de 20% das actividades nacionais: as do Estado!). Estas algumas das razões para ter enviado Sócrates às calendas.

Mas Cavaco não o fez e isso foi e será a causa primeira, não da estabilidade que alguns dizem, mas da instabilidade, precisamente. Essa a principal razão de ter tido menos votos. E a outras, a desilusão geral em relação à vida pública e aos políticos, com toda a razão de ser. O descontentamento geral e a desconfiança sobre as reais capacidades destes políticos pouco mais do que medíocres de inverterem este caminho de corrida para a bancarrota e abismo, ou pântano, termo muito caro aos socialistas...

Mas um outro factor atingiu Cavaco e dele deve tirar alguma leitura: não contará muito para o desempenho como Presidente que tivesse ganho mais do que seria normal quando das operações com as acções do BPN, ou com o negócio da sua casa no Algarve (até porque ainda me lembro das casas de Maria de no centro de Lisboa e outras mais, de muitos socialistas ou de outros partidos...). Mas é de esperar de um Presidente, que se proclama de honestidade inquestionável, que se preste a algum esclarecimento, como homem do Povo. Com humildade democrática.

Cavaco é o Presidente certo para este momento nacional. Mas não tem de ser defendido apenas porque se veste uma dada camisola. Isso seria pouco honesto, intelectualmente e isso, nunca o farei.

Resta-nos agora esperar que Cavaco faça este Governo cumprir o Orçamento, que obviamente não cumprirá, apesar de toda a propaganda em redor disso mesmo. E que após o Verão de 2011 se prepare, para resultados ainda piores do que em 2010 e uma recessão de difícil recuperação. Ou que, na mais do que provável entrada do Fundo Europeu de Estabilização Financeira/FMI, tenha a lucidez de perceber que não há confiança na permanência de um Governo que nos trouxe a esta calamitosa situação, que há mais de seis anos se previa (e sabia, como tantas vezes avisei!) e a coragem de fazer o que tem de ser feito. É preferível uma crise política temporária a uma crise económica prolongada.

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