A cada Novo Ano

Somos feitos de pouca coisa, ou coisa alguma. Mas de qualquer matéria e imatéria ínfima seremos constituídos. A uma escala, já fomos o centro de todas as coisas, quando esse centro se decidia com bases imediatistas a soldo de interesses religiosos e políticos. Muito mudou e, no entanto, numa outra escala, quase nada se alterou. De centro de tudo, passámos a migalhas ou resíduos intergalácticos. De nós, para nós, somos o que de mais importante existe, porque tão-só se pode medir, verdadeira, ou significativamente, o que sabemos existir e não o que adivinhamos, ou supomos, ou queríamos mesmo que tivesse existência, mas esse querer apenas se basta a si mesmo, e não chega para nada mais.

Nestes anos que passaram, nestes anos por que vamos passando, as nossas convicções se abalam, os sonhos se relativizam, ou deixam de o ser, restando apenas a imagem fátua ou ténue que nos fica de mera recordação, dos nossos anseios de antes.

Foram amigos que se ...foram. Foram familiares, foi tanta gente e tanta coisa, e esse sonho pueril com que em tempos julgáramos ser a alavanca que mudaria o mundo e o levaria a nova e melhor existência.

Quando se chega a mais um novo amanhecer, como este do Dia em que a contagem do tempo é refrescada e retorna a um dos zeros do calendário, à mente vem-nos esse tempo. O tempo de grandes esperanças e firmes convicções. Não sabemos como andas estas de saúde. Não nos agarramos a elas, como antes o fazíamos, nem talvez nos sobre a vontade de lutar por elas, mas nem por isso as matámos, ou as mataram outros por nós. Adiámo-las? Talvez. Talvez para sempre.

Usamos estes dias 'da Festa' para nos redimirmos com as nossas recordações? Entre a vontade, mais ou menos enérgica, ou firme de continuarmos a nossa lutazinha pessoal, por aquilo que ainda nos move, somos atingidos por múltiplas recordações, tantas delas pouco felizes, muitas mesmo de nostalgia e tristeza. Quanto mais o tempo passar, mais disso nos ficará? Até que nada mais nos sobre? É o que os mais idosos nos transmitem em tempos destes. Mas não temos de nos resignar e deixar que assim seja.

Os flashes que nos invadem pelo meio dos dias 'de Festa' (assumidos passivamente, interesseiramente, por tradição e por comodidade, mas por prazer, talvez, também), lembramo-nos dos nossos Pais que se foram, dos irmãos de que estamos desavindos, dos amigos de quem nada sabemos, mas que teimamos em querer como tal. Lembramo-nos do que queríamos ser. Do que podíamos ter feito, e do que não devíamos ter.

E, por uma estrada de sol fora, com a paisagem calma e paciente a rodear-nos, a consciência da nossa imensa insignificância deixa-nos, porém, mais tranquilos. De uma tranquilidade indesejada, talvez. Mas como grão infinitamente pequeno, nos biliões de areias universais, esta nossa pequenez, traz-nos não a irresponsabilidade junto e por tudo o que faz parte de nós e dos nossos, mas o descanso de que não faremos história que se veja. E, no entanto, cada um de nós faz parte da história dos nossos outros.

Um BOM ANO de 2013, que seja o mais importante de todos, para cada um de vós!




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