Incompatibilidades de luxo e incompatibilidades plebeias

A comparação parece, à partida, excessiva. Mas o excesso será outro...

Os políticos, os que têm funções-chave em matérias que se relacionam com importantes áreas das decisões do Estado, dos grandes projectos, digo melhor, das áreas e sectores que dominam o Orçamento do Estado, que custam, por isso aos portugueses a fatia maior do dinheiro que é nosso património comum, seja do que nos chega via Dívida Soberana, que sempre pagaremos os menos capacitados, ou da colecta directa e excessivamente injusta a que nos compelem.

Na nossa Assembleia da República, onde a soberania dos cargos termina, onde começa a responsabilidade para com os eleitores, ou devia assim ser, há deputados, não tão poucos assim, mas também não a maioria, que tendo acesso privilegiado a informações sobre negócios do Estado, em curso ou potenciais, usam esse acesso e o poder conferido, em interesse de empresas que servem, nas quais têm funções meramente com esse mesmo objectivo. Conflicto de interesses, tráfico de influências, as designações são várias, para o que o que todos sabemos chamar de Corrupção por influência directa.

As áreas de acção do Estado mais propensas a estas autênticas redes de interesses, partilhados em predominância por membros dos Partidos mais vezes em funções no Poder, PS, PSD e CDS (mas onde podem também existir alguns casos de gente dos pequenos Partidos, nunca com a mesma expressão e, porventura, gravidade) são as Obras Públicas (quase todos desconfiamos de tantas obras realizadas sem a necessária prioridade ou urgência), o Ambiente (lembram-se de processos relacionados com reciclagem, a urgência e pressão sobre processos nas cimenteiras...?), Parcerias Público-privadas, mas também a Saúde, os Transportes, a Agricultura, a Educação ...deixo para outro texto, o detalhe sobre tudo isto.


E que acontece a um cidadão normal? Se por exemplo for desempregado e receber subsídio de Desemprego da Segurança Social? Não pode auferir nada mais de outra fonte, seja de uma acção de formação, que o poderá colocar de novo no mercado de trabalho, ou de um emprego parcial para com isso poder fazer frente ao total de despesas que tem de suportar. Muitos de nós tendemos a condenar com a maior ligeireza estes cidadãos, esquecendo-nos de fazer a necessária e justificada análise. UM desempregado será um criminoso a ter de prestar contas de tudo, se o desemprego até foi uma das consequências, ainda que indirectas da acção irresponsável e criminosa dos agentes políticos com incompatibilidades, ou corruptos, mesmo? E de que valores falamos? E o subsídio auferido não é consequência das suas contribuições durante a vida profissional activa? Mas...a estes, por estes cidadãos, nada a fazer. Até nós os condenamos, aos (até condenação judicial, que nunca acontece... não se lhes pode imputar a imagem de criminoso, claro), pelo menos, imputáveis por incúria, ou dolo, ou “apenas” envolvidos numa rede de influências que lesa o Estado...nada!

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