A reclamação do Direito à Independência ou a União?

O referendo na Escócia tem levantado muitas questões e dividido opiniões. Absolutamente normal, tratando-se, a cisão ou independência de uma região, num país com séculos de união, de um tema fracturante, passe o pleonasmo.

Mas o tempo em que isto acontece parece-me levantar outras questões e devia conduzir-nos a todos a uma reflexão mais cuidada. Há mais de três séculos que a Escócia é parte do Reino Unido. Mas nunca foi pacífica a relação, sentindo-se os escoceses, pelo menos parte deles, numa espécie de sujeição a um país que não é o deles. Falam inglês, mas também o gaélico escocês e o scots. Esta problemática linguística não terá tanta relevância, mas é comum a muitos países por toda a Europa, sendo mais marcante em Itália ou na Suíça, por exemplo.

As perguntas que devíamos colocar são, a meu ver:

  • Porque agora esta vaga pela independência, que assola não apenas a Escócia, mas também a Catalunha, para não mencionar ainda o País Basco, ou mesmo a Galiza? 
  • Porque uma Europa que se diz em ajustamento, positivo, e que nega a sua própria decadência cultural, percorreu séculos com mais ou menos estas mesmas fronteira entre os seus Estados Membros e agora dá por si com este dilema?
  • O que levam estas regiões a pretenderem a Independência? Certamente que mesmos os defensores da Independência, têm noção que países maiores, com maior peso populacional e económico, ganham em momentos de conversações na Europa. 
  • Porque, como neste caso da Escócia verificámos, se enganaram os nacionalistas, e perdem assim um referendo que pode nunca repetir-se?
  • Que eventuais consequências isto poderá trazer a uma Europa já tão abalada por crises económicas, divergente entre Estados Membros (fizesse-se agora um referendo em Portugal sobre a nossa simpatia pela Europa...) e animosidade contra os auto-supostos líderes pan-europeus (Alemanha e França)?
  • Que figura pensam estar a fazer os que se colocaram do lado do "Não", mesmo admitindo que estão com a razão (neste momento)?
  • Será que ter perdido o referendo, perdem a razão? Ou que apenas se trata de não ser este o momento? (sou tentado a pensar, também, que este não era o momento, e que em princípio é sempre melhor um país mais forte, maior, mais unido...do que pequenas regiões criadas de uma fragmentação, que surja de vontade popular, com raízes históricas e culturais, mas...)
Mais perguntas se podem agendar. Mas poucas respostas conseguiremos obter. O resultado do referendo escocês fica para a história, como um conjunto de erros cometidos por ambos os lados, em momentos provavelmente mal escolhidos, mas pontuado por eloquentes intervenções públicas de uns (Gordon Brown e Salmond), e desastrosas de outros (David Cameron). Talvez muita coisa mude no Reino Unido, mas pela Europa, ninguém irá ver sinais de mudança que urgem ser feitas. As regiões que reclamam a independência estão insatisfeitas com os países a quem devem soberania, ou também com esta Europa sem cor e sem visão? Ou com uma visão apenas, distorcida e injusta, que passa pelo empobrecimento assumido de uns, para que outros possam manter-se como estão, uma visão germânica. Mas sem futuro, como um dia irão entender. Esperemos que pacificamente.

Mas algo também se pode dizer sobre a coroa britânica. Não terá este momento do referendo um tanto a ver com os sinais de enfraquecimento da casa real inglesa? E não será legítimo que um dia coisas, instituições, pessoas se ponham em causa? 

Que lugar tem a legitimidade dos povos a pretenderem regressar a uma antiga identidade cultural com milénios atrás de si, face a uma conveniência económica e social, que até tem prestado um mau serviço, por quase toda a Europa? O que deve ganhar (não que ganhe, sabemos que não raramente as minorias perdem e por isso o são, e não perdem em razão...)? A causa destes povos, ou uma coesão e força dos Estados Membros, contra alguma frustarão social dominante e diariamente sentida? Isto sem fazer qualquer balanço económico, ou de viabilidade económica, ou de força negocial política. Esse, duvido que alguém o consiga, científica e rigorosamente.

Por mim, fico-me com a ideia de que será mais viável uma Escócia dentro do RU, mas que as causas e vontades populares devem ser respeitadas. E que um dia, eventualmente, fará sentido mudarmos...o sentido da nossa própria opinião. Há causas, que têm de ser intrusadas, que exigem tempo para lhes entendermos a força e a razão. E o que ontem era verdade, não será forçosamente amanhã.

Fico-me também com a ideia de estas causas não surgem neste momento por mero acaso. Parece haver uma espécie de axioma histórico, sempre à espera de ser demonstrado, e que sempre o será: quando surge a vontade de divisão, surge pelo descontentamento. E não estaremos a falar apenas dos países em questão, mas de um assunto que toca e interessa a uma Europa, por estes dias demasiado saxónica. Liderada por uma mulher com visão distorcida de um mundo a fenecer todos os dias. A desigualdade e assimetria entre povos e regiões será a morte sem ressurreição de uma Europa derivante.

A Europa onde um Barroso de triste figura (um homem sim-sim... com sorrisos de condescendência pobres  discursos de circunstância) se ufana de vitórias com pés de barro, é uma Europa muito desatenta e triste...também ela.

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