As mudanças que nunca aconteceram

O Mundo podia ter mudado mais cedo? Mudado para melhor? E em que sentido?

Ao analisar alguns momentos cruciais da História, permito-me concluir que tantas vezes este nosso Mundo, Ocidental e mesmo Oriental, podia ter mudado tantas vezes, quantas as que grandes visionários apresentaram as suas ideia, as suas visões, através de palavra escrita ou falada. Alguns destes nosso momentos de oportunidade, foram-nos dado por pequenas, ou não pequenas observações, de filósofos e cientistas, de homens e mulheres de saber, de gente inteligente, ou mesmo visionária, no sentido em que algumas pessoas conseguem, para além de uma inteligência acima da média dos seus contemporâneos, uma inteligência acutilante, apresentar uma visão...que mais tarde se vem a verificar. Não foram nada raras as vezes. Galileu, queimado por ser visionário, e por ter razão (e ainda nos espantamos quando hoje, tendo razão, somos relegados para um plano de esquecimento, num serviço ou numa empresa, ou mesmo num grupo mais restrito de pessoas).

Ser visionário é dar uma oportunidade a uma sociedade de ver algo, que ninguém mais consegue ver. E é muito difícil, raramente se pode provar, e mais raramente consegue que aceitem o que foi "visto". Há nas empresas casos famosos de quem "teve razão antes de tempo". Um livro que me recordo de ler há uns anos, mencionava um desses casos, "O preço da incompetência", de que não consigo agora referir o nome. Outras vezes, temos de reconhecer, que uma sociedade não estará preparada para a inteligência de gente assim. E, no entanto, considero eu, o mundo perde nesse momento uma oportunidade.

Livros raros, ínfima parte do que foi queimado pele Inquisição, ou por Monarcas afrontados com a inteligência cortante e poder de persuasão de homens únicos, são hoje prova deste raros momentos, saltos na evolução a Humanidade, totalmente desperdiçados. Jesus, quase ia sendo um caso perdido, e foi precisamente a solução (interpretação minha, completamente livre) fazer dele o fundador de uma religião que nunca o foi. Foi "recuperado" por Constantino, Imperador de Roma, numa perspicaz estratégia para unificar e apaziguar o Império. Substituiu festas pagãs pelas alusivas a Cristo, sendo o 25 de Dezembro uma delas. Mas muitos outros homens, muito antes de Jesus, tinham dado ao mundo a grande oportunidade, não entendida, abafada ou por circunstâncias da época, deixadas no quase eterno esquecimento. Lucrécio, que viveu cerca de 50 anos a.C. foi o autor de uma obra iluminada, uma obra polémica mas muito avançada para a época, "De Rerum da Natura" ("Da Natureza das Coisas").

Lutero, um religioso profundo, apegado a fundamentos da raiz Cristã, contrariando as tradições que adulteraram a Igreja de Roma, conseguiu divulgar as suas ideias apenas em menos de meio mundo Cristão. Exactamente o actualmente mais evoluído, social e intelectualmente. A essência das suas ideias radicavam na simplificação dos procedimentos, na introspecção genuína, em comunicação com as convicções religiosas e com Cristo, e na decoração simples e "espartana" dos templos luteranos, da Igreja Evangélica. Lutero tinha contra ele um feitio ácido e austero, regras ainda mais rígidas do que Roma, e era impiedoso, tinha "mau feitio".

Da Grécia, hoje um país desgastado, uma civilização que teve outros momentos de glória e é hoje uma sombra disso, vieram os livros, o prazer pelo Saber, que os romanos ajudaram a expandir pelo seu Império. Vários ilustres pensadores foram mais avançados do que o seu tempo, nesse mundo antigo.

Mais tarde, os próprios Iluministas apenas viram parte das suas ideias adoptadas pela sociedade, e parte das Monarquias foram caindo por efeito das suas ideias.

A própria história contemporânea é exemplo de oportunidades perdidas, mudanças que nunca aconteceram, momentos de estagnação da evolução humana. Hoje, penso vivermos momentos contraditórios, que alguma ciência e conhecimento nos faz ou fará avançar, a par com um domínio do Mundo por um sistema Financeiro, Economias e vastas regiões inteiras, ou parcialmente, nos querem agarrar ao passado, regredir. Como sempre aconteceu.

A Desigualdade Social, dentro de muitos países classificados como desenvolvidos, ou entre vastas regiões unificadas pela Economia, e pouco pela política, acentuam esta regressão, sem a visão de fracos líderes, como o caso da Europa, e dentro dela, países como Portugal, Espanha, Itália, Grécia e alguns mais...sem a visão da necessidade do avanço social, económico, financeiro e cultural em bloco.

Estou convicto de vivermos um momento de oportunidade de mudança, que iremos provavelmente perder. Provavelmente já estará a passar. Nenhum dos políticos portugueses ainda me deu uma ténue noção de tar algo de visionário, ou de permitir e ouvir a visionários, a indicação de um caminho. Caminho de oportunidade de Futuro.

A este propósito, para além das obras que tenho vindo a referir, ainda recomendo a leitura, urgente, de Niall Ferguson "Civilização", e, novamente, de Daron Acemoglu e James A. Robinson, "Porque falham as nações" (e, claro, Barzun, Diamond, Judt e outros).

O Mundo podia ter mudado, ter dado grandes saltos evolutivos e hoje, provavelmente, já viveríamos realidades bem distintas. A Ciência que hoje conhecemos, a Filosofia, o Pensamento, enfim a evolução humana parou, forçada a isso, tantas e tantas vezes, por culpa de quem era retrógrado, de quem tinha e tem medo de uma evolução, se sente ameaçado por ela, prefere controlar uma sociedade de gente desenformada e pouca evoluída, controlar economias que não podem avançar, reféns de grupos fechados e que trocam entre si interesses mútuos, e por tantas razões. Mas sempre isto aconteceu, desde antes de Cristo, como agora se sabe, até ao presente em que sofremos bem na pele este amordaçar de todos nós por mão de gente menor. Gente muito pequenina, sem cabeça, sem ideias, sem visão, que se sente ameaçada por todos os que pensam e insistem em divulgar o que pensam.

O Mundo, o nosso ou o mundo inteiro, será sempre refém de gente sem escrúpulos e sem valor, por vezes até humano. A maior ameaça para os medíocres não é a capacidade económica de alguém, mas a sua inteligência versátil e a sua visão de longo alcance.

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