Há dias...

Há dias em que devemos remeter-nos ao silêncio, resguardar-nos do nosso mau humor, não responder a quente, não reagir a nada. Normalmente essa deve ser a atitude, nesses dias.

Mas há dias em que penso se dever reagir a quente, exactamente para que alguma raiva passe para outro lado, que a merece. É o caso de hoje, quando leio que um dos empresários com melhor imagem (já sabemos que há muito photoshop nas imagens...) de boa pessoa, de pagar melhor do que na concorrência, que vem a público embuído de sensatez e algum espírito crítico, interpretando o que se sabe serem as preocupações dos portugueses e do país, esse empresário anda a perseguir funcionários, com o moderno instrumento de persuasão para o despedimento: processo disciplinar.

Trabalhei numa empresa (a temperatura vai subir...!) em que isso foi feito com seis funcionários, logo depois de eu ter saído. Comigo nunca o fariam, simplesmente rasgaria o dito cujo no nariz do gerente, um ex-amigo de mais de vinte anos, uma dessas pessoas que não chegamos a perceber como fomos amigos. Seis processos, todos inconsequentes. Numa empresa com pouco mais de 20 pessoas. Seis ameaças, todas para humilhar as pessoas, o maior prazer do seu gerente, que chega a afirmar que a pessoa em causa, quando discute com alguém, precisa de psiquiatra, e para baixar a expectativa de indemnização. Nenhum dos processos tinha qualquer fundamento.

Esta crise, e antes dela a globalização, tem servido para isto. Humilhar as pessoas, fazer baixar expectativas, fazer baixar o valor remunerativo e trazer o mercado de trabalho para níveis dos anos setenta. Voltando a Stiglitz, esse Nobel da Economia hoje muito polémico, mas quem ler o seu livro " O preço da desigualdade" irá entender muito do que ainda se está a passar por Portugal e pela Europa, e EUA (sobre os quais incide o livro, fundamentalmente), o objectivo é exactamente criar desigualdade.

Criar ruptura social e várias outras, em cadeia, dentro das famílias, nos seus grupos e assim toda a sociedade isolada, o nível de expectativa sobre o trabalho faz com que ele fique mais barato, e sobre mais para Directores Executivos, o que por cá se chama administradores executivos, ou mesmo Directores. A Crise, repito uma vez mais, não surgiu por erros dos mercados ou desatenções negligentes. Foi criada com este propósito.

Nos EUA os Directores Executivos de empresas em falência, receberam prémios indecorosos, de valores previamente subtraídos a colaboradores seus. A falência, porém, demonstrou-se ter sido consequência da má gestão dos mesmos que se auto-indeminizaram. É o que diz Stiglitz, com todas as letras. É o que irá acontecer no grupo do BES. Não duvidem. Já sucedeu no BCP. E seguir-se-ão outras empresas, já faltou mais.

E o Governo, olha para o lado. Normal, se provém do mesmo sistema...

O povo é que não pode continuar a olhar!

Num dia assim eu estaria já na rua num processo tumultuoso de grande impacte! E não seria por mau feito meu. Por gostar de reagir a quente, quando a situação o solicita.

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