Outono, um tempo outrora amado


Sempre gostei do Outono. Nasci nele, acho que sempre me referiu uma expectativa de renovação, deste dos tempos de escola. Quando iniciava um novo ano escolar, a minha ansiedade crescia, na medida da curiosidade e do prazer do desconhecido que queria acontecesse. Novos conhecimentos, novos colegas, a dada altura...uma namorada nova talvez me esperasse. Mas eram expectativas, umas que se cumpriram, outras que talvez nem fossem importantes. Era um renovar de ciclo, a contra-ciclo, antes da renovação natural da Primavera. 

Mas nem sempre o Outono me foi amigo. E, com alguma frequência me traz alguma nostalgia, provavelmente angústia. Havia tanto que queria se tivesse cumprido. E tanto de que tenho saudades. E de umas e outras coisas, tenho deixar que ciclos se cumpram, sejam-me favoráveis ou não. Mas estarei sempre cá. E seguramente mais preparado e forte.

Não é uma confissão. Mas algo que...nestes momentos fortes, em que sinto a mudança lá fora, em que não me permito descansar sobre acontecimentos, fico a preparar-me, a recuperar para algo que sei já ter sido. O Outono sempre foi um re-início de ciclo, ou um novo, ou algum que se renova. Como eu, em contra-ciclo com a natureza, que encerra o seu, quando sinto o meu se restabelecer. 

Pela palavras me refaço, sempre assim foi. E recuso. Frontalmente contra uma natureza nem sempre culpada, talvez nunca, nem sempre aprazível para com os meus impulsos e desejos. Recuso a nostalgia a que o Outono, desde há muito me compele. 

Na agricultura, o Outono é um recomeço e um fim. Há tudo em cada Estação. Sem escolha. Comigo, quero escolhas, mas não as irei fazer. Vou deixar o cair da folha, a abcisão, com a calosidade criada na sua inserção, seguir o seu ritmo e aguentar. E cá estou nesta e na Estação seguinte, essa sim, é-me adversa. Não sou nada invernal. Não fora o respeito pela natureza, eliminaria um Inverno que me contraria a minha própria.

Hoje, esperando o temporal da promessa...oiço um dos meus nostálgicos mais amados.


Porque a Nostalgia e o Outono se entendem, ou são a mesma coisa. Uns que morrem para outros renascerem? Uns que hibernam para mais tarde se re-erguerem?

Outono, será um tempo de pausa e espera. Na companhia de um chá, de um chocolate quente, a assistir ao belo por-do-sol que por estes tempos é mais intenso. Os astros não têm sentimentos, mas parece que nós interpretamos assim este sol baixo e este ar misterioso, que não sabemos nunca o que nos traz.


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