Momentos emergentes

Os Estados vivem, ciclicamente, momentos de uma necessidade particular, em que devem congruir e colaborar diversos factores e forças especiais. A nossa mente tem momentos de especial lucidez, de uma força aparentemente inesgotável e uma energia contagiante. Assim, também, as sociedades, por via da conjunção de diversas mentes, de pessoas com a clarividência acima do normal, com a visão impossível a tantos outros. Momentos emergentes. Momentos de uma espécie de concentração transcendental, social, neste caso.

Assistimos a um momento especial, talvez único, esperemos que não irrepetível. A Justiça que tão adormecida (ou amordaçada) andou, encontrou forças desconhecidas e lançou-se em operações de enorme envergadura e grande perigo.

Há perigos tremendos associados a esta investigações, num país com muito poucas tradições de prestação de contas aos cidadãos, com muita poucas tradições de transparência na vida pública. Perigos de manipulação secreta, de obstrução da actividade de investigação criminal. Perigos de "golpe de estado" sobre a Justiça, por parte e alguns, ainda, poderosos. A Maçonaria, essa perversa seita nunca até hoje ao serviço da comunidade, mas antes ao dos interesses obscuros dos seus associados, ao ponto de cada vez mais, em dificuldades nacionais evidentes, ela mesma ser usada por gente sem escrúpulos, pode ser uma das maiores e mais reais ameaças à acção de uma Justiça que renasce das cinzas. Mas outros perigos existem e alguns deles provenientes do lado mais frouxo e fraco, descaracterizado, sem coluna vertebral, da sociedade. O lado dos que nada entendem e nem querem alguma coisa entender, mas sempre procuram essa estranha justificação do injustificável, como defender um suspeito de grande e muito ameaçadora corrupção, pelos intrincado meandros do mau senso, quando julgam defender o Direito dando voz a "justificáveis segredos de justiça" e a direito de defesa, mesmo pela artimanha, mais do que pela lícita actividade profissional de um advogado intelectualmente suspeito. Nada justifica mais uma acção de investigação sobre crimes de corrupção do que o Real interesse de Portugal.

Num momento emergente, devia surgir uma individualidade de mérito e carisma inquestionável, como em tempos as houve, durante a segunda guerra mundial e mesmo no pós guerra, quando os políticos eram do peso de um Churchill ou, mais tarde, de um Kohl.

Hoje, em Portugal, penso que esperaríamos um Presidente com tal envergadura. Mas começo a entender a dificuldade do nosso actual Presidente, que teve o meu apoio oficial na sua primeira candidatura, mas não na segunda. Talvez sinta a mesma espécie de compromisso com esta gente que nos tem governado em ambiente de tranquilidade para os corruptos, que António Costa sente.

Era de uma atitude emergente de clarificação sobre o que se está a passar, deixando clara a necessidade maior da actuação da Justiça, como a temos recentemente visto, e acalmando as hostes, as duvidosas e comprometidas hostes de apoio ao "suspeito de denore", sobre quem recaem mais de oitocentista suspeitas.

Mas já perdi a esperança de ver uma atitude de integridade e autoridade moral por parte do nosso Presidente. E ninguém mais dá um passo em frente.

Não há nevoeiro matinal e D. Sebastião não aparece.

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