Reflexões sobre os povos e as suas inexplicáveis (faltas de) atitudes

Há algum tempo que me tem dado esta vertigem de reler e rebuscar na memória os acontecimentos que conduziram às duas Grandes Guerras Mundiais, na Europa originadas e desenvolvidas. Estes caminhos devem-me ter sido sugeridos pelo lado "peste" da minha mente vacilante- o Inconsciente (ou serve isto de pretexto, apenas).

Quando me interrogo sobre as razões que (não) assistem a um povo para não tomar uma atitude, organizar-se num dado momento, ou durante uma época relativamente longa...como aconteceu com Portugal durante os anos do Estado Novo (sempre me irritou este epíteto sobre época tão retrógrada), como aconteceu em Espanha, durante os anos de Franco, como aconteceu na Europa da Primeira Guerra, quando povos enlouqueceram, em nome de uma dita (ditosa) honra que diziam defender, como voltou a suceder na Segunda Guerra, em que um povo evidentemente de cultura superior a tantos outros europeus, se deixou convencer, subjugar e conduzir por um louco mentiroso, de inteligência direccionada, a seu serviço pessoal e do seu grupo de embriagados pelo racismo (mais pelo interesse financeiro e sede de poder).

Porque a memória do que li na minha adolescência me podia trair, fui de novo indagar. E de facto, confirma-se. Os alemães que hoje perversamente lideram uma Europa (derivante...talvez o não pretendessem ou lograssem se este fosse um espaço geográfico e político, económico e social forte, de países menos desiguais, mais parceiros, mais participativos num equilíbrio de forças distinto do actual), foram forjados na mesma cultura, língua e país que cegamente se verificou seguidista, por ...afinal tão poucos anos, mas tão violentos e consequentes, tão poucos, quanto a vontade com que logo após a entrada dos "Aliados" no seu país, os fez não apenas aceitar uma nova realidade, como negar a anterior, de semanas, ou poucos meses, como alguém que um dia ama e dias depois já não sente amar, ou vice-versa, a mesmíssima pessoa. Tanta fé e o seu contrário são difíceis de entender, e, talvez por isso, todos os outros povos antes seus indignados opositores os tenham, também com a celeridade de escassos anos, deixado de os julgar.

Impressionante, face mesmo a uma entrada violenta, dos libertadores Aliados, outra faceta rápida e intrigantemente apagada da história. Quando os Aliados entraram e ocuparam a Alemanha vencida e rendida, novos actos de violência se perpetraram, com a humilhação nova do povo que antes havia violentado a Europa. Talvez legítima, pela raiva. Indesculpável, pelos mesmos princípios, que diziam os libertadores defenderem.

Mas como foi este povo tão fácil e universalmente subjugado e controlado? Como ...Portugal em tantas épocas? E Itália? E Espanha.

Na Alemanha de Hitler, a mesma que hoje julga saber o que é melhor para si e para toda a Europa, tão cheia de certezas hoje, como outrora, logo traduzidas em profundas dúvidas, a resistência e oposição ao ditador foi frouxa, desorganizada e dispersa, nunca eficaz. Estranha-se, aos olhos de hoje, pelo menos. Mas por cá, o mesmo povo que abraçou o fim de um regime e o início do seu contrario, de uma Democracia, também se contradiz nos termos e nos actos. Também se estranha.

Não está na proximidade cultural a explicação, como se compreende, sem grande reflexão. Não está na diferença da mesma, eventualmente. Estará em algum implícito sociológico, ainda por se entender e explicar?

Um dia um povo se indigna, se manifesta e revolta e provoca uma reviravolta, tumultuosa ou não, na sua história. Noutro, aceita passiva e tacitamente, tudo o que nega no dia anterior. E o seu contrario também.

Factos e momentos diferentes, evidentemente. Mas talvez as atitudes estejam mais próximas, entre épocas distantes de setenta anos, e regiões, de mais de dois mil quilómetros, do que se poderia supor.

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