Reichstag 1933 - Paris 2015

Fevereiro de 1933, Berlin. O Reichstag estava a arder, e Hitler, empossado Chanceler um mês antes, aproveitou logo o acontecimento, para controlar as pretensões dos comunistas na Alemanha. Supostamente. Até hoje, não é claro que van der Lube tivesse agido sem apoio ou por indicação dos Nazis.

Paris, 2015. O atentado contra o Charlie Hebdo parece estar a incitar ânimos muito diversos, todos eles a servirem o interesse de mais confrontos, de tumultos e de uma animosidade (passe o pleonasmo) contra uma Europa enfraquecida pelos disparates alemãs da austeridade. De passagem, convém lembrar que a austeridade que a Alemanha quer continuar a impor na Europa, não serve nem os interesses dela própria, que, por sua vez, foi alvo de uma generosidade ocidental muito superior quando teve de pagar as dívidas das duas Grandes Guerras (ainda em parte por saldar com alguns países, nomeadamente a Grécia). Convém lembrar que todos os caminhos nos podem estar a levar a uma desintegração muito mais acelerada do que se poderia imaginar, da União Europeia. E nada me parece mais óbvio do que, de novo a falta de inteligência clarividente da que muitos consideram a líder: Merkel. Mas continuo na esperança de me enganar.

Enquanto me engano ou se confirmam as minhas suspeitas, a Europa e diversos países anti-europeus, árabes, Rússia e satélites, vão extremando posições. Os movimentos políticos europeus que nos chegam diariamente pelas notícias, de fontes muito diversas, indicam um extremar de posições, totalmente previsível. É sempre mais forte a necessidade de pertença. De pertença a um clube, mesmo que artificialmente criado, seja de "direita" ou de "esquerda" e todos se tornam previsíveis. Uns, tentando seguir na linha das posições mais secretárias. Outros numa suposta e provavelmente falsa, tolerância a toda a prova. Europa toda demasiado previsível e uma tão preocupante repetição da História de há 80 anos. Por seu lado, os árabes, numa escalada de violência, que também serve muitos interesses políticos e económicos, com a baixa do preço do petróleo, por diversas razões, uma das quais a do "maldito fascista e imperialista" americano que agora se vai tornando praticamente independente das suas produções, os seus petrodólares já não lhes chegam, nem servem os interesses do seu totalitarismo, do armamento dos seus países e mesmo do fanatismo, que sempre tem de ser alimentado com uma desigualdade muito profunda e Estados super repressivos e policiais.

A cada dia, as movimentações após o atentado contra o semanário francês, indicam que de alguma forma alguém parece interessado em repetir os anos antecedentes à Segunda Guerra. Putin é, seguramente, um dos mais interessados. Mas os interesses comezinhos dos líderes europeus, enfraquecidos nos seus países. seguem as mesmas pisadas. Merkel estará de saída, cada vez mais em causa dentro da Alemanha, onde lhe serviram os interesses, a capacidade económica de um povo privilegiado pela Banca e Finanças, numa vergonhosa desproporção à escala europeia. Hollande, estava a cair nas opiniões dos franceses, e aproximando os seus pontos de vista da extremista Le Pen, parece querer segurar-se melhor nas sondagens. Um e outro povos, a fazerem as asneira que tantas vezes se fizeram. É a fragilidade das Democracias: a sua própria força. Quando um povo entra em desequilíbrio e se descompensa, no seu discernimento, como aconteceu na Alemanha de Hitler, e repetidamente por todo o mundo, líderes fracos, líderes perigosos se foram enchendo de favoritismo...o resultado foi sempre bem mais gravoso.

É por isso que nunca se está suficientemente perto de um nível cultural e intelectual superior. Ser cego por um mau gosto do tipo do Charlie Hebdo não é forçosamente ser-se o melhor defensor da Liberdade de Expressão. Para isso, seria bom que todos pensássemos numa situação equivalente cometida contra um nosso ente querido: de uma sátira sem qualquer bom gosto, mas sempre agressiva, contra os nossos...e também no seu contrário, no assassinato gratuito e cruel de pessoas que faziam a sátira.

Observo, no entanto, com este gosto pelo abismo, uma escalada que em nada me deixa despreocupado. Lembra-me, por demais, dos tempos entre as duas Guerras e de tudo o que depois sucedeu. Na altura, como agora, a maioria dizia-se convicta na impossibilidade da Guerra, que no entanto tem sido sempre o culminar, a última, derradeira instância de solução de profundas feridas e diferendos. Da forma mais brutal. Mortal.

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