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A mostrar mensagens de julho, 2015

Um mundo triturado pelo dia a dia necessário

Deslocava-se pelas ruas com o pensamento noutros momentos, noutras pessoas, noutros locais. Como o livro que vinha a ler, pouco a pouco, em cada comboio e cada transporte que o conduzia ao trabalho, no qual o mundo do escritor se ia desenrolando, desnudando, aos olhos de todos os que o liam, ou leram. Eram pensamentos sobre a razão das coisas, a razão de ser. Do trabalho, do mundo assim construído, que já não levava ninguém a mais do que ir, sem interrogações. Eram as pessoas todas estranhas, uma, algumas, normais, as suas conversas, sobre os seus dias, o que alguém lhes havia dito e irritara, o que alguém lhe havia dito e encantara. Uma promessa, uma ilusão dita, ou uma promessa cumprida com prazer. E o prazer, onde estava por estes dias? O prazer, que em tempos se pretendeu encerrar numa gruta das vontade e naturais impulsos humanos, defendido publicamente há muito, demasiado tempo para que consigamos entender cabalmente como foi ele capaz de ler a mente humana e a felicidade necessá

A encantadora ideia de ser grande

O Ministro das Finanças alemão diz que não existe nenhuma supremacia alemã. Schäuble parece querer dizer que não há alguma tentação por parte da Alemanha de se querer impôr aos outros países, ou de efectivamente ser o grande decisor do futuro dos outros países, numa tentativa de nova germanização europeia, de hegemonia germânica, antes não conseguida pela força das armas.  Mas uma coisa é Schäuble afirmar e outra é a realidade. Nem toda por culpa alemã. Há duas condições para sermos liderados ou chefiados (pois liderar é exercer um poder natural, conferido pelo reconhecimento dos outros, que o assumem e se deixam conduzir, livremente). Uma é pretender e conseguir impôr a sua vontade acima da dos outros, outra é todos os demais assim o pretenderem, ou, pelo menos preferirem. As razões da liderança são muitas, mas a principal é, como facilmente suspeitamos, o poder económico e financeiro. Há, por outro lado, uma tentação vertiginosa, sempre preocupante a um dado tempo, de quem é gran

Cegos, surdos e mudos voluntários

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Hoje, ao ver uma das conferências TED que muito aprecio, dei com Margaret Heffernan e a sua " The dangers of willful blindness " ("o perigo da cegueira voluntária"). Vale a pena ouvir com toda a atenção, cada palavra. Willful blindness versus, Whistleblowers . Lembrei de um dos meus heróis, provavelmente o único. Um homem que na convulsão do seu tempo, percorria os jardins da cidade que o adoptou e sem nada ver à sua volta, não dando até pelos pássaros que tão bem soube representar numa sua obra (por sinal, uma das mais belas sobre o tema, de sempre e das líricas e encantadoras de toda a obra única que nos deixou), quase que passava pelas "brasas incendiárias" desses tempos e sem se deixar influenciar...chegava a casa, nos arredores de Viena, numa zona linda, de verde, onde hoje pululam os maravilhosos heurige , que nos deliciam com o seu vinho fresco do ano, os arranjos dos pátios, as flores os pássaros, jogos de luz e sombra que surpreendem quem