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A mostrar mensagens de 2016

Parece normal

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O dia começava com uma rotina e desenvolvia-se em outras tantas, muitas. Os dias enchem-se e preenchem-se de actos repetidos à exaustão, na persistência do suporte da subsistência. Mas os actos fora do comum, os feitos que se elevem acima de si mesma, existem guardados secretamente, silenciosamente, à espreita de uma oportunidade. À espreita da oportunidade pode não significar uma passiva existência. Sair de casa para o trabalho, levando consigo um sorriso sempre único e genuíno e forte, é em si um acto de resistência e coragem perseverante. A maioria de nós desiste do sorriso, e desiste, com isso, do sonho bem preservado, fechado a sofrimento por anos de tanta rotina desgastante. O sonho, eram sonhos em catadupa. Era um novo local, uma nova vida, uma outra rotina que não fosse assassina. Sair e entrar, entrar e sair, de casa de todos os locais, sorriso sem correspondência certa com o sentimento profundo e asfixiante, com essa fome de libertação. Um sorriso e uns olhos radiosos,

Leituras recomendadas

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Podemos passar tempos indefinidos a ler banalidades, ou histórias interessantes que apenas nos ocupam e dão prazer. Nunca nada de mal existe em continuarmos em hábitos de leitura ligeira, que nos tornam as horas mais agradáveis e até as companhias mais preenchidas, com a partilha de uma bela história, com a leitura de um bom livro, mesmo que apenas se trate de um romance, de mera ficção. Há livros que conseguem cativar-nos pela qualidade da escrita, como pela qualidade da construção do enredo. Mas há outro tipo de leituras, que uma vez por outra fazem todo o sentido e nos ajudam no desenvolvimento pessoal, enriquecendo-nos com conhecimentos e ideia, tanto como com a qualidade da sua prosa. Recentemente encalhei em alguns desses livros de que quero deixar testemunho, mesmo ainda a caminho de conclui a sua leitura. Brendan Simms escreveu uma obra tão fascinante, como inteligente e importante. Uma leitura actual, que nos apela a uma reflexão que nem sempre conseguimos ter. Europa, a

Os intocáveis

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Este título é uma provocação. Ia a escrever qualquer coisa como "personalidades" ou "figuras sagradas", mas lembrei-me, a despropósito, mas mesmo a jeito de algum sarcasmo, de um filme sobre um grupo de gangsters  em que ninguém tocava. Até um dia. Na cultura ocidental, ciência incluída, sempre houve um conjunto de "monstros" sagrados, inquestionáveis criaturas que parecerem sempre acima de qualquer falha, erro, ou lapso de inteligência. Foram tantos...Freud (logo este!), Kant, Voltaire, Descartes, Marx, Engels, a lista não terá fim. Nem tudo o que disseram e escreveram se configurou ser verdade, mas nem tudo teria de o ser. Mas ainda assim, muito do que deixaram na sua herança intelectual, está plena de disparates. Hoje, por elegância, bem mais do que por justiça em nome de ciência e cultura, desculpamo-los com a repetida ideia de que "à luz dos conhecimentos da época"...ou "com os meios de que dispunham na altura". Mas terá sido

Desaparecida

Um filme, que revi há alguns dias no fim de semana, de que tinha lido o livro "Em parte Incerta" de Gillian Flynn ("Gone Girl"), é um bom pretexto para uma sessão  de cinema a dois, se os dois apreciarem este género.  O livro é ainda mais interessante, mesmo não se tratando de uma obra de grande literatura, mas é uma história bem urdida. A história é claramente policial, mas componentes psicológicas e sociais enriquecem-na e também a tornam em algo um tanto provocante, não chegando a polémico, mas mais por ser inquietante. Um casal que se conheceu de forma original e que parece ter uma enorme cumplicidade, rapidamente vê o seu casamento envolvido em perturbações e começa a viver uma situação de rotinas diárias, dando lugar a uma traição pelo marido (Ben Affleck no filme, no papel de Nick Dune). Amy, a bela esposa, filha de um casal de escritores, que publicam desde a infância da filha livros juvenis com o nome dela, presenciou a traição do marido e decide vingar

Clubes exclusivos

As duas revistas de actualidade de maior circulação em Portugal decidiram na mesma semana, o mesmo tema de capa: os clubes privados em Portugal. Os clubes dos “poderosos”. As frases introdutórias são sugestivas, tanto dos clubes, dos grupos ditos mais exclusivos dos nossos mais “influentes”, como das redacções editoriais das referidas publicações. Em tais clubes, rezam (é mesmo coisa de culto, não sabemos é se meio, todo ou nada secreto) a “Visão” e a “Sábado” há salas exclusivas, onde se discutem e decidem negócios e, parece claro, mas não é, a sociedade. Qualquer ser normal entende que se discutam negócios em privado, em “exclusivo” ou “reservado”. Intrigante é, porém, entender onde andam esses negócios, num país que carece tanto deles e tanto eles escasseiam. Pelo menos para que a sociedade e o país (se incluirmos a administração do Estado na sociedade, coisa que ainda me dá que pensar…) vejam os chamados resultados, ou benefícios de negócios tão em grande secretismo discut

As prioridades das ideias no futuro

Segundo Anne--Marie Slaughter, no seu livro Uma Questão em aberto", no futuro os problemas entre Homens, Mulher, Profissões e Família ainda se colocarão. Sim provavelmente. A ideia base é a de que ainda há muito por "resolver" no tocante às profissões das mulheres, e na sua relação com marido ou companheiro, e com a família e a tradicional organização da vida familiar centrada na basilar figura feminina. Acredito que sim, em muitas sociedades e em muitas regiões de um mesmo país. Mas para mim este tema já começa a entrar pelo ridículo e perfeitamente fútil. Porque duvido serem esses os problemas sociais, e familiares, do futuro. Os problemas essenciais terão bem mais a ver com as relações interpessoais em casal, desse casal com a restante família e nas implicações com as profissões. Hoje o amor, outrora, mas nem sempre também, um alicerce de uma vida a dois, o amor hoje prende-se com aspectos muito práticos e com condicionantes da vida contemporânea, que nada têm a

Nenhum dia é suficiente para conter toda a luz

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Quando se passa em frações de segundo, de um estado sem consciência, vindo de um outro em que o cérebro aproveitou o descanso físico para se reorganizar e nos confundiu com aqueles sonhos que parecem saídos de um filme de ficção científica, e nesse breve momento de alteração de estado, nos esforçamos por abrir os olhos à realidade, num natural exercício diário de regresso ao real... ...E o mesmo calor ausente ali está, a mesma luz de um sorriso que escasseia ali está, a mesma respiração amada e o odor dessa ausente mas sempre constante presença imaterial, ali está, num desejo para que o tempo voe e se regresse à doçura de uma realidade nem sempre possível. Abro a janela para que entre a luz e não me dê alguma hipótese de regressar a um sono que me prende no que não quero, mas que me liberte ao pensamento que entender. E a este sentir por todos momentos em que esses olhos únicos me roubaram todas as palavras que consegui aprender. E, por opção fecho de novo os olhos, já com o qu

Quando o sol...

Não é assim tão frequente, mas por vezes desperto antes do Sol. E espero por ele. Adoro a sensação da luz que começa um dia e adoro fechar os olhos voltado para ela, que se intensifica em poucos minutos. Ao fazê-lo, pensamentos que me surgem, ganham a mesma intensidade que a luz dele me quer inspirar e afastam-se planos e previsões para um dia que nem sempre se quer sequer começar. Tudo o resto, quer-se começar. Nós somos muito mais aquilo que pensamos do que aquilo que vivemos, provavelmente. E é dessa forma que muitos se dedicam aos seus deuses, aos seus fantasmas, às suas inquietações, aos seus prazeres, grandes e pequenos, a grupos aos quais insistem em pertencer. A ideia de um deus que nos protege, a ideia de algo que nos deve orientar, que nos dará num momento que deixou de o ser, com a morte, tudo o que em vida não conseguimos e nem pensamos se para tal lutámos o suficiente, é fascinante para muitos, é uma ideia menor, ou totalmente rejeitada, para mim. A ideia de pertencer